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Despertar


Como eu já contei em algum texto por aqui, comecei a trabalhar com 14 para 15 anos de idade. Meu primeiro emprego foi em uma imobiliária. O segundo foi em um escritório de assessoria de informações cadastrais para crédito. Depois trabalhei com faturamento, depois com contas a apagar e a receber e controle de fluxo de caixa, depois com organização de eventos esportivos... Até que comecei a trabalhar por conta própria e passei duas décadas fazendo pesquisas autônomas sobre temas relativos às ciências humanas, principalmente Administração, Comunicação, Marketing e Educação.

Meu primeiro trabalho como gosthwriter foi sobre torcidas organizadas de futebol. Uma encomenda feita por um administrador que pensava em investir em sistemas de segurança contra os conflitos que aconteciam entre elas na época... Não foi o que eu escolhi, e sim o que a vida me trouxe e eu pude agarrar com as condições que eu tinha. E foi ótimo, porque foi o que me permitiu ler, estudar, aprender e pagar as contas, a partir das condições que eu tinha!

Acontece que seria um contra senso jogar toda a minha experiência de vida no lixo. E digo "de vida" e não "profissional" porque é isso, mesmo... Em outras palavras, minha primeira escolha por área de estudo e pesquisa em Filosofia foi a Teoria Crítica não porque eu acho legal levar um vidinha miserável, e sim devido a familiaridade com a racionalidade instrumental, que é elemento intrínseco dos procedimentos administrativos em geral. Eu conhecias as teorias de Taylor e Fayol e de outros teóricos da Administração, então entendia sem dificuldades o que diziam Herbert Marcuse, Adorno e Horkheimer. Estudei bastante os fundamentos e a história da administração, da comunicação corporativa e do marketing, então entendia perfeitamente Erich Fromm e Benjamin. E eu vivi isso tudo no meu cotiano de trabalho. 

Alguém que vive no universo corporativo e não reconhecer a teoria crítica como reflexo do mundo real tem algum problema sério! Problema de posicionamento para observação para além do próprio umbigo talvez, mas não só. A falta de vontade de posicionar-se adequadamente é mais grave... E a ideia de que a esquerda (frankfurtianos) defende pobreza é cega, preconceituosa e ignorante! Ambicionar a liberdade subjetiva, tanto quando a natureza dos corpos permite, para além de sistemas de controle de pensamento e as biopolíticas não implica defender pobreza. Quem pensa o contrário tem sérios problemas com imaginação e criatividade... Pudera, a adesão capitalista condiciona o pensamento! Capacidade de pensamento limitado! Danos cognitivos!

Nos últimos anos, em meio a problemas pessoais e dificuldades familiares, me perdi da minha identidade no mundo das ciências humanas. E em algum momento os preconceitos de outros sobre mim passaram a ter um peso superlativo sem que eu me desse contas das dimensões... Lentamente venho despertando do meu torpor. 

Não existe uma única forma de viver e as imposições capitalistas no mundo são anti-éticas, no mínimo! É isso o que eu acredito, e por alternativas a isso é que vale à pena lutar... Que eu seja mais uma voz dissonante num mundo de surdos é melhor do que abrir mão da minha essência por meio de escolhas erradas. 


Imagem, fonte: https://images.app.goo.gl/St79KH7aN99bEm8L7