Manhã de segunda-feira, e contra todas as probabilidades, estava eu cruzando a cidade. Enfrentaria uma reunião complicada. Estava ciente de que deveria falar por horas seguidas, explicando, esclarecendo, defendendo pontos de vista que me são caros. Até sem perceber comprei uma briga intelectual que vai render muito e muito provavelmente causar muitos atritos.
Há momentos em que a gente se sente ilhado, sem ter para onde correr e sem ninguém com quem contar numa terra estranha. Por mais que eu queira enfeitar meus dias com flores e poesia, percebo que não furar os dedos nos espinhos é um desafio e uma arte que eu não pratico bem. Na verdade, sou sensível demais, embora a determinação e a teimosia sejam bons disfarces, e em momentos cruciais o que mais combina comigo é recuar frente a possibilidade de xeque-mate, mesmo estando com o jogo vencedor nas mãos.
Em momentos cruciais sempre alguém sai ferido e eu normalmente prefiro ferir a mim mesma do que a outros. Mas não estou falando sobre um jogo estratégico entre executivos cobras-criadas. O que está em jogo não são interesses financeiros, status ou posições de poder e sim coisas muito mais importantes. E por isso mesmo, naquele momento me sentia pequena diante de tanta responsabilidade, desamparada e prestes a desabar num choro sem fim.
Parada no trânsito, liguei o rádio e como por mágica ecoou Don’t Stop Believe... Me lembrei que tem alguém com o nome de Steve Perry no meu Facebook. Cada vez que vejo suas mensagens me vem um carinho tão grande por esse músico tão especial! Às vezes, pelas preciosidades compartilhas, me arrisco a pensar que talvez seja ele mesmo no Face e não um secretário, amigo ou fã... De qualquer forma, é uma bênção que existam pessoas no mundo, que a gente nem conhece pessoalmente, mas que em momentos delicados transmitam tanta força e até sem saber que o fazem... Ouvir sua voz naquele momento foi como receber a mensagem de uma ordem universal superior, como a voz de Deus dizendo “calma, vai dar tudo certo”... E chorei me sentindo reconfortada por alguma coisa que estava zelando por mim, enviando seu mensageiro de voz perfeita para dizer o que eu precisa ouvir... Cheguei ao local com o coração nas mãos, falei por horas seguidas, expliquei, esclareci, defendi pontos de vista que me são caros... E só tarde da noite voltei a atravessar a cidade rumo ao meu lar, me sentindo novamente sozinha, mas sabendo que fiz bem a minha parte e que o dia valeu.
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