Pular para o conteúdo principal

Volta às Aulas







Não é segredo para ninguém que 2011 foi um dos piores anos da minha vida, senão o pior. Passei um ano inteiro mergulhada numa depressão, que hoje, olhando para trás, me espanto por ter enfrentado e continuado viva. Houve momentos em que pensei que não conseguiria e mais de uma vez me peguei pensando em qual seria o modo mais adequado para acabar com aquele tormento de uma vez por todas. 





O auge desse processo foi o dia da minha prova de Estética, quando a única coisa que eu conseguia era chorar e desejar desaparecer do mundo. Não consegui sair de casa naquele dia, não fiz a prova e não tinha um atestado médico que desse conta do meu estado. E alguém, em meio a uma crise de depressão, vai se preocupar com atestado médico?! De qualquer forma, na universidade onde estudei a palavra do aluno não vale nada, e isso acabou me custando um ano de faculdade, no último ano.







O caminho de saída do fundo desse buraco negro teve vários momentos importantes em que gestos involuntários fizeram muita diferença. Descobrir alguém com que eu havia sido comparada e ver que ela não é uma bruxa horrorosa, de maneira alguma, me fez muito bem. Seu acolhimento, carinho e amizade também. Notar que pessoas liam meus textos e que eu estava transmitindo tristeza para elas me fez reagir e procurar não continuar mergulhada em lamúrias. Pequenas coisas que me deram algum ânimo e me moveram minimamente da latergia... O trabalho com a Recid, que é a minha cara, me levou a conhecer novos lugares, novas pessoas... Conhecer as experiências dos companheiros/as que estão espalhados/as por esse país, sonhar com eles/as e empenhar esforços para realizar esses sonhos me fez enxergar novas perspectivas e esperanças. E minha turma de educandos, para quem dou aulas de Comunicação às segundas-feiras, é meu conforto e minha paz. Eles têm um pedaço do meu coração.





Estar com pessoas queridas, com tanto em comum, impede que minha mente seja dominada por pensamentos tristes, dá o tempo necessário para que meu corpo cure as feridas, apague da memória o que não vale à pena. Aos poucos, muito aos poucos, o sol voltou a brilhar para mim, ainda pálido, é bem verdade... Ainda há um véu que me persegue e não sei se algum dia ele desaparecerá.





Mas, porque agora voltar a falar de escuridão? Por causa da minha amiga Teresa, que me empurra para retomar o que ficou parado... Nos conhecemos em 2009, na faculdade. Ela, muito comunicativa e com um jeito um tanto incomum de ser, desde os primeiros dias de aula, se tornou minha companheira constante. De início estranhei que ela tivesse escolhido a mim para estar ao lado a maior parte do tempo. Ela, sociável até o ponto de causar estranheza; eu, caramujo que sou, muitas vezes tentei desviar dela para simplesmente estar só. Ela nunca desistiu de mim.... Ainda hoje, nunca passa mais do que alguns poucos dias  sem dar notícias e tentar me animar a fazer algo... Mais do que uma amiga se tornou minha confidente, ouviu pacientemente todas as minhas lamúrias, aconselhou, tentou ajudar, algumas vezes atrapalhando sem perceber, mas sempre companheira dedicada, solidária e generosa. Seus deslizes são perdoáveis, desimportantes, diante de tudo o que ela é, fez e faz por mim.





E muita vezes minhas atitudes com ela me fizeram pensar na atitude de outra pessoa para comigo e nas minhas formas de reagir a isso... A diferença é que na minha relação com ela nunca surgiu algum obstáculo intransponível, então a amizade evoluiu naturalmente... E hoje, eu que sei o quanto vale uma amizade assim, me sinto até mal por recusar seus convites para sair, ou suas solicitações para qualquer coisa... Por isso, e só por isso, aceitei acompanhá-la até a faculdade na semana passada. Ela, que abandonou o curso no segundo ano, quer retornar e precisava saber como proceder. Fomos numa sexta-feira à noite. Procuramos pelas informações necessárias, caminhamos por ali e saímos para jantar. Íamos até a Paulista, porém, numa tentativa de fugir do trânsito acabamos a noite na Frei Caneca. Conversa vai, conversa vem, e acabei convencida de que está na hora de voltar a estudar e terminar meu curso. 





Meus amigos sempre têm a propriedade de acreditar em mim mais do que eu mesma faço. Ontem, sábado de manhã, eu e a Teresa começamos nossa peregrinação pelas faculdades de Filosofia de São Paulo e região. Procuramos uma "casa" nova. Ela tende a ficar na faculdade antiga, pois mora há poucos metros, eu sou mais resistente. Não sei para onde vou. 





De qualquer froma, quero mais é ser feliz, estar entre pessoas que eu possa admirar, em um ambiente tranquilo que contribua para a minha paz de espírito e, em consequência, desenvolver o que ainda não pude. O mito acadêmico da Filosofia para poucos eleitos, aplicado a um processo sadomasoquista de formação de cordeiros de rebanho (entenda-se aluno que sai repetindo obedientemente e irrefletidamente o que ouve de doutores, sem colocar nada de autenticamente seu), para mim não serve.





.