Tarde dedicada à arrumação de livros e estantes. Constatação: no momento, um curso de encadernação me seria muito mais útil do que qualquer outro que me fizesse pensar.
Entre meus livros, me deparei com o " A Balada de John & Yoko" e me lembrei da época em que John Lennon se foi... Eu ainda era criança, mas naqueles dias pensei em como sobreviveria alguém que perdesse irremediavelmente o seu grande amor... Como pode ser possível viver cada dia sem avistar o ser que se tornou o sol da nossa existência? Talvez eu devesse me sentir privilegiada por saber a resposta sem ter exatamente ficado viúva... Mas que espécie de "privilégio" é esse?!
Algumas das lições mais importantes da minha vida estou aprendendo, por vivência e não por teoria, com a pessoa mais cabeça dura que já encontrei (não que ele tenha a intenção de me ensinar algo). E uma delas é: a gente sobrevive sem o que mais ama... A gente pensa que não, mas sobrevive, mesmo que terrivelmente triste e enfraquecido, mesmo que tendo uma crise nervosa aqui e outra ali, mesmo querendo destruir o universo e se destruir junto, mas até contra a vontade, dolorosamente demais, a gente sobrevive... Todos as possibilidades de se reequilibrar estão dentro de nós e não fora, não mais no outro que partiu.
E nesse processo a gente acaba aprendendo uma nova forma de amar, o "amor dos peregrinos"... Vou chamar assim o sentimento de quem tem plena consciência de que estamos nesta terra de passagem. E isso implica tantas coisas... Implica desapego, implica saber que o meu amor é o meu bem mais precioso, justamente por conta desse desapego, pois é o que melhor dá conta da minha capacidade de transcendência e superação... Não há perdão que não seja possível, não há o que não se releve, mesmo sem precisar relevar ou perdoar, mesmo sem precisar ter o outro junto, embora desejando-o.
Ultimamente algo mudou na minha vida... Uma mudança fundamental! Recebi mensagem de um amigo levantando a hipótese de fazermos um grupo de estudos com outros amigos filósofos. Fosse noutra época da minha vida e lá estaria eu planejando o tal grupo. Sempre agarro ideias no ar, visto a camisa, mesmo... Porém, dessa vez não disse nem sim nem não. Estou ocupada demais tentando descobrir como viver uma vida que seja verdadeiramente minha, de um jeito que eu seja o melhor ser humano que posso ser... É uma decisão consciente e assumida. Para isso, não estou me dispondo a abrir mão apenas de um grupo de estudo. Várias outras coisas estão em fase de liquidação. Novamente vou driblar obstáculos à minha paz. E isso tem muito a ver com lições aprendidas, com a necessidade de sintetizar o múltiplo que sou para ser digna do que me é essencial.