Eis que depois de um giro pela cidade, visitando faculdades de Filosofia, eu e a Teresa resolvemos viver o nosso dia "Thelma e Louise". Rumamos para o litoral, pensando em almoçar olhando o mar. Na verdade, a Te estava tentando me arrastar para a praia há uns quatro anos. E eu resistindo. Certa vez ela chegou a arranjar tudo para passarmos uma semana em Ubatuba, acampadas. Na última hora, nem me lembro por qual motivo, eu decidi não ir. E ela, claro, não gostou nada. Ontem, sábado, estávamos na rua, nos deu na cabeça de ir ver o mar e fomos.
Nos perdemos em algum lugar entre os desvios da Imigrantes para Anchieta ou vice-versa. Mas, sem maiores problemas. Gosto muito de estradas! Gosto de observar a distância e neste ano rodei pelas estaduais e federais por mais tempo do que fiz nos meus quarenta anos de vida. Embora eu goste de aviões, só troco o transporte rodoviário pelo aéreo quando não há outro jeito. Gosto de observar pessoas e lugares, tenho vocação para mochileira e andarilha. Adoro descobrir recantos nada evidentes.
Chegamos primeiro à Praia Grande semi-abandonada num sábado nem frio nem calor. Sempre gostei da visão do mar, do vento, do barulho das ondas. Mas a Praia Grande sempre me pareceu distante, recuada, impessoal... Me parece sempre um lugar de passagem, nunca de chegada. Porém, ao deixá-la e atravessar a Ponte Pênsil, rumo à Praia de São Vicente, me emocionei, como se estivesse voltando para casa depois de muito tempo.
Dizem que o verdadeiro amor a gente nunca esquece... Estive ali quando criança e me apaixonei! A cidade é considerada a primeira vila brasileira, fundada por conquistadores portugueses que tomaram a área dominada por índios Tamoios, Guaianazes e Carijós, em 1532. E quantas vezes, ao longo de meses e anos, pensei em retornar... Nunca me esqueci de como me senti bem ali. Na verdade, nem moro tão longe, mas por algum motivo não voltei antes... Não era o momento.
A vida é cheia de momentos que a gente não entende e, muitas vezes, não prevê. E quando prevê, nunca é exatamente do jeito que a gente imaginou algum dia. Pode ser pior, pode ser melhor, ou simplesmente diferente... Encontrei uma cidade pequena, aconchegante como eu me lembrava que era, com um clima de alegria em ambiente familiar. É um lugar onde me sinto recebida de braços abertos, por braços que me abraçam como os de uma mãe envolvendo seus filhos. Para mim, é um lugar mágico.

E cheguei em casa no meio da noite, com o coração apertado, nó na garganta e lágrimas nos olhos, mas ainda decidida a não ficar falando de coisas tristes... Sei o que espanta a minha tristeza: o movimento... Se tivesse que viver uma vida estável hoje, eu morreria, murcharia como planta sem água ou sol... Estou transitando, não sei se procurando, ou fugindo... De qualquer forma, deixando o tempo passar.
Fonte: A foto da Ponte Pênsil foi retirada da Wikipedia, pois as minhas, tiradas com câmera de celular, não ficaram boas.