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Branding







Fica no Shopping Santo André um dos meus restaurantes preferidos. Na verdade, o shopping mudou de nome e como a distração ocasional para as coisas do mundo é minha opção, não me lembro do nome nem de um nem de outro. Sei em qual canto da praça de alimentação o restaurante de comida típica mineira está instalado; sei que o shopping fica na Av. Industrial. Basta! Vou almoçar ou jantar lá sempre que tenho a oportunidade. E, da última vez, final de maio, creio eu, entre uma garfada e outra, em dado momento, parei e arregalei os olhos ao me dar conta da quantidade de marcas que estavam hasteadas diante dos meus olhos. .. Yes, brand! Estrategicamente colocadas, tentando formatar meu cérebro indefeso e divagante enquanto o corpo degustava as delícias mineiras... Me senti agredida! 





Estudei marketing por um bom tempo. Sei como anúncios ingênuos e primários, a partir da década de 40, se tornaram itens sofisticadíssimos de dominação e controle. Heranças indesejáveis de Freud e Maslow, entre outros. Conheço as teorias de necessidades e motivações humanas, os métodos de criação e manipulação de desejos inconsciente por estímulos e sinais, os processos de pesquisa e segmentação de mercado, as concepções e desenvolvimento de produtos, planejamento estratégico, análise BCG, Swot, etc, etc... Também conheço as origens da tal “sustentabilidade”, da “responsabilidade” social, do accountability, dos ISOS e outras certificações. Conheço os princípios da “ética” pragmática mercadológica. 





Minha primeira apresentação num simpósio, em 2009, foi sobre um estudo das falácias contidas nos discursos corporativos. Aqueles, decorados dos livros de Kotler e Cia, repetidos com roupagem diferente nas mais diversas situações. E, modéstia à parte, sou boa em virá-los do avesso! Tão boa que me irrita profundamente o bombardeio constante a que a sociedade está submetidas por campanhas de marketing milimetricamente calculadas e projetadas para emburrecer as pessoas. 





O maior inimigo do esclarecimento é o marketing. Mas o problema não é o marketing em si, e sim o uso que é feito dele por burocratas medíocres e inescrupulosos por meio de discursos falaciosos. Chegam ao cúmulo da falta de escrúpulos ao utilizar a educação infantil e a cultura como ferramentas de doutrinação ideológica! Assim, garantindo os próprios privilégios e o status quo, péssimos profissionais vulgarizam o que bem poderia ser uma ferramenta de transição de uma ideologia capitalista falida para algo melhor, espontaneamente surgido em contexto social equilibrado. O Marketing se torna fonte do engessamento cognitivo da sociedade e congela possibilidades de transcendência. 





Nunca antes as elites estiveram tão bem amparadas por um poder financeiro tão desmedido, dispuseram de meios tão eficazes, potencializado por ferramentas tão eficientes! Nunca contaram com tantos meios de promover a construção de uma sociedade sadia e nunca alvejaram tão bem a humanidade pelas costas... 





Consciência crítica é o único antídoto e como eu a tenho até em excesso, vou continuar almoçando no mesmo restaurante sem marca, do shopping sem nome, e fazendo pouco caso das cócegas que as marcas me fazem... E em breve ainda vou me divertir muito com isso... Em breve!