Apesar do tempo livre cada vez mais escasso, ultimamente venho me reaproximando de uma antiga paixão: o cinema. Ando revendo filmes antigos em fins de noite, mais do que assistindo a novos. “Efeito Borboleta” foi o último que reassisti, ainda na sexta-feira. E isso mexeu comigo de alguma forma... Bons filmes sempre me fazem pensar muito...
Já faz algum tempo que escrevi algo sobre a poder que a imaginação tem para criar subjetivamente aquilo que lhe falta objetivamente... Não expliquei exatamente porque dizia isso, mas foi por um acontecimento específico, algo que ultrapassa minha concepção do que é mera “imaginação”.
Por outro lado, lembro-me de uma palestra, de uma das minhas professoras mais queridas... Ela fazia uma apresentação sintética do pensamento de Nietzsche e, como introdução, falava do conceito de vontade de vida de Schopenhauer. Segundo ele, foi na busca por garantir condições de manutenção da vida que a espécie humana teria desenvolvido o córtex cerebral e criado a razão. Daí que, para Nietzsche, influenciado por Schopenhauer, a razão é só mais um “órgão” do corpo, tão importante quanto qualquer outro órgão vital como o coração ou o fígado.
Fazendo uma analogia dessa perspectiva filosófica com exemplos cinematográficos, mais do que o próprio “Efeito Borboleta”, me vem à mente “Clube da Luta” e “O Operário”, dois dos meus filmes preferidos. Neste último, após um acontecimento traumático, sob o efeito da culpa, a mente do personagem bloqueia suas lembranças numa forma de autodefesa, recusando-se a lidar com a realidade. O corpo adoece, se consome, torna-se raquítico, mas de alguma forma, é o corpo que coloca o personagem no rumo certo para que desperte, supere o bloqueio da memória... O corpo cria e recria para a manutenção da vida e expansão da sua potência de viver.
Em Clube da Luta, o personagem, um investigador de seguros, tem um “bom” emprego, viaja pelo país, ganha um salário que lhe permite manter seu apartamento bem equipado com todas as quinquilharias que ele deseja comprar, mas ele ignora suas próprias necessidades mais profundas, até que sua personalidade se desdobra em duas e assim o corpo encontra um meio de extravasar as energias frustradas e contidas.
“Efeito Borboleta” fala sobre perspectivas do real e possibilidades de realidades paralelas (tem muito do eterno retorno ali) e a ele junto “Uma Mente Brilhante”, sobre esquizofrenia e “Amnésia”, do Chris Nolan... São muitas as questões que me surgem, mas o que mais me intriga é que eu e meu corpo somos um... Mas "um" que não se conhece e se entende, muitas vezes, de forma tão equivocada... Essa, possivelmente, é a principal fonte das superstições que assombram a humanidade, dos equívocos sentimentais, do cientificismo exagerado... Depois de tantos séculos, não levamos a sério o suficiente a máxima "conhece a ti mesmo".
.