Não ouso interpretar o que os acontecimentos anunciam. Aprendi a temer as coincidências. Da última vez que confiei nelas, fui cobrada ao preço da minha sanidade. Aprendi a perceber as coincidências e fazer de conta que não é para mim que elas acenam. Talvez não seja, mesmo. Talvez eu romantize demais meras contingências, lhes atribua sentidos que não existem. De qualquer forma, nos últimas dias algo estremeceu nas estruturas do cosmos. Senti! Foram colisões demais, inesperadas demais para serem ignoradas.
Mas, me nego a qualquer coisas. Há situações limite em que o sensato é aceitar a própria impotência. Não posso nada, não sei de nada, não farei nada a respeito. Apenas me movo aos tateios. O futuro não me pertence, não depende de mim. Desconsidero! Mas, sigo adiante ciente de que me espreita uma lógica autônoma e incompreensível. Quem ficou para trás que me alcance se puder e se quiser, que aprenda a ter a dignidade de merecer a possibilidade de cada passo. Eu me envergonharia por retroceder, por desrespeitar meu próprio sofrimento, por banalizar minhas lágrimas de sangue.
E estou cansada de quem se senta na calçada e tenta me convencer a estacionar junto. Uma afronta! Estou em constante partida, sem nada que me prenda sob o céu. Me arrisco demais, é verdade. Ser equilibrista sempre foi minha vocação dolorosa. Mas tenho me empenhado em fazer uma faxina na alma. Sem ressentimentos, sem mágoas, sem ciúmes, sem referências... Até sem decepções, sem traumas, sem amarguras, sem indignações, sem esperanças, sem vontade, sem tristeza, sem lembranças, sem alegria... Apenas tateios.
Hoje, como ontem, não acredito em recomeços. Acredito em erros cometidos e lições aprendidas por quem deseja aprender. Acredito em continuidades e consertos, em quedas e superações, em perdão concedido aos fortes que aprendem a merecê-lo. Acredito em renovação, em novas oportunidades. Mas, como saber quem aprendeu com os próprios erros, quem merece novas oportunidades? A gente não sabe nunca... Mas, a dúvida já anuncia importâncias essenciais. Está ali, nas curvas do caminho, nos retornos e correções de rumo, no simples impulso por não ir adiante. Uma contenção irracional, uma inquietude primordial que faz olhar à direita ou à esquerda... Os impulsos são mais sábios do que as longas dissertações desencadeadas por eles. Isto, também, a gente aprende vivendo.
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