Dias atrás o site Obvious, via Facebook, divulgou uma matéria sobre Dita Von Teese. Chamou-me a atenção a qualidade da foto em preto e branco. Pela legenda, não distingui, de imediato se Dita era a fotógrafa ou a modelo. Então, guardei o link para ler o texto posteriormente. Se era a fotógrafa, seu trabalho me interessava.
Atualmente, e por algumas semanas, estou pesquisando sobre fotografia para incrementar as oficinas de comunicação que estou desenvolvendo. E lá fui eu, ler o texto do Obvious... Ok! Com referência a muitas coisas que estão acontecendo no planeta, sou uma alienígena e não é de hoje. Simplesmente não me é possível dar atenção a tudo o que surge no meu caminho e ainda às minhas necessidades básicas (como escrever). Em certa época, Marilyn Manson até me chamou atenção por seus gostos extravagantes e suas declarações interessantes. Mas sua música não me convenceu. Sabia lá eu que Marilyn havia se casado e se divorciado de Dita e quem era essa tal Dita. Azar o meu! Ela é fantástica e me trás novas perspectivas.
A gente sempre se apaixona por algo que, de alguma forma, nos complementa em dado momento. Esse algo está em nós antes de se refletir no outro. Este foi um pensamento que me veio esta noite, em meio ao dorme-acorda... Da última vez que me apaixonei por um homem foi porque vi nele o que quis ver. O que eu precisava ver se combinou com sua bela imagem e eu levei tempo demais para me dar conta de que não havia sintonia entre a imagem e o meu ideal. Idealizei-o muito além dele mesmo. E na falta de palavras que explicassem a minha determinação em ver no outro o que não estava nele, procurei respostas na psicologia, na literatura, na música, no teatro... Qualquer coisa que me traduzisse para mim... Fui estudar relações de gênero para me entender... Mas, a imagem que pairava em minha mente, até sem fazer muito sentido, era a de Sabine, a personagem de Milan Kundera em A Insustentável Leveza do Ser. Independente e dona de si.
Certa vez, a linda cantora Nicole Zcherzinger disse que toda mulher tem uma Pussycatt Dolls dentro de si. A mulher orgulhosa de ser mulher, que tem atitude e personalidade, inteligente e capaz, sedutora mas não vulgar, que se ama, se curte e luta para seguir seu próprio rumo, tão livre e independente quanto possível... Nicole tem razão! Pena que a mulher dentro de cada uma, muitas vezes tenha medo mais do que coragem e determinação, pois foi ensinada a ser dependente de quem não pode compreendê-la nem merecê-la, a envergonhar-se dos próprios instintos, a esconder-se de si mesma. Dificilmente um homem irá incentivá-la a ser diferente. Mais comum são os homens que querem uma mulher para adorá-los, para serví-los na mesa e na cama, para adorná-los diante da sociedade. Homens desse tipo querem uma seguidora que lhes diga "amém", não uma companheira.
Por outro lado, a última forma de repressão feminina é a revolta acadêmica contra o próprio feminino. O discurso dominante é “feminino é criação cultural que deve ser descartada, pois originalmente não há feminino nem masculino... feminino, criação cultura, é forma de dominação exercida contra a mulher”... Sei! Toma-se a totalidade pelas partes... E qualquer maneira de dizer o que outros devem sentir, pensar ou como se comportar, quando imposto sem possibilidade de escolha, é uma forma de dominação. O fato é que existem mulheres que detestam as mulheres; existem homens que não sabem o que fazer diante da autonomia feminina que os desafia a ser mais. E isso é uma polêmica longa, que não vou discutir aqui, neste texto.
Quero apenas dizer que também por influência de uma mensagem postada em Facebook passei a semana ouvindo HIM. Não sei dizer ao certo o motivo, mas hoje essa banda assume para mim um sentido que não teve em outras épocas em que a ouvi... Um romantismo-realista (a realidade crua mesclada a possibilidades que em mim estavam desacreditadas e já nem faziam sentido) passa a ser resgatado e colorido com novas nuances. Hoje estou pensando que não é o romantismo que não faz sentido e sim o romantismo cosmopolita-industrial... Vazio, superficial, decadente, descartável e que tem tornado tudo e todos descartáveis... Do tipo de romantismo de que trata o HIM encontrei ecos na farsa burlesca de Dita Von Teese. Um "romântico" fantasioso, estilizado, brincalhão, bem humorado, com pouco ou nenhum parentesco com o romântico trágico tradicional, mas que não deixa de ter um pé no real por meio de desejos que não são apenas fantasia e que, apesar de toda a graça, pode escapar ao controle. Uma romantismo de malabaristas.
Há tempos que a expressão "Commedia dell’arte" está vagando na minha cabeça como um náufrago sem rumo. Algo para ser pesquisado um dia, quando eu tiver tempo (como se eu tivesse a eternidade)... Agora me surge o "burlesque" como sua variação. Observando fotos e vídeos de Dita e outras de suas colegas, notei que o importante não é a beleza física, mas a delicadeza dos gestos, a graça dos movimentos, o dito e o não dito de seus sorrisos e olhares... São mulheres que inutilizam qualquer tipo de grosseria com um simples olhar vazio e uma dignidade a toda prova. Essa é sua beleza mais verdadeira! “Clássica”, como Dita parece gostar de dizer.
Tenho procurado por novas paixões, por novas perspectivas e sentidos que preencham a vida, pelo renascimento... Respostas, assim como todas as coisa, têm seu tempo para surgir. No tempo certo elas salta diante dos olhos e não podem ser evitadas... E devo escrever sobre minhas novas descobertas e redescobertas. As janelas estão se ampliando.
Foto: http://lounge.obviousmag.org/ma_khalil/2012/08/dita-von-teese-a-revolucao-do-burlesco.html
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