Estou aqui. Eu amo você. Não me importo se você tiver que passar a noite inteira acordada chorando, eu fico com você. Se você precisar dos remédios de novo, não tem problema, tome - eu vou amar você do mesmo jeito, se fizer isso. Se você não precisar de remédios, vou amar você do mesmo jeito. Não há nada que você possa fazer para perder o meu amor. Vou proteger você até você morrer, e depois da sua morte, vou continuar protegendo você. Sou mais forte do que a Depressão e mais corajosa do que a Solidão, e nada nunca vai me desanimar. - Elisabeth Gilbert
Fato raro na minha vida é eu deixar de lado as minhas leituras. Não me lembro de qual foi a última vez em que li um livro inteiro, do começo ao fim... Os acontecimentos vêm se atropelado e eu tenho mergulhado neles como que agarrada a uma tábua de salvação. Lendo, mergulho em mim mesma e entre letrinhas vejo imagens que tenho me recusado a ver. No redemoinho de acontecimentos diários eu não penso no que não tem jeito, não me angustio e driblo a depressão na maior parte do tempo. Ouço o burburinho para não me ouvir.
Os instantes restritos de descanso venho ocupando com o cinema. Estou colocando em dia meus conhecimentos sobre cinema e vídeo. Também ando ouvindo os clássicos do rock e do pop, aqueles álbuns importantes os quais, por algum motivo, não procurei conhecer antes. Porém, ando sentindo falta dos sossegados instantes de contemplação literária. O livro da Elisabeth Gilbert, "Comer, Rezar, Amar", entre outros, foi começado e abandonado. Retomei e estou me esforçando para lê-lo, um pouquinho por dia. Ontem à noite, enquanto me dirigia para minha aula noturna, o trecho acima me veio à mente. A autora-narradora fala de um instante em que, deprimida, ouve sua voz interior, que fala com ela e a reconforta, o seu eu que é sua companheira constante e sua amiga.
A solidão e a depressão sempre andam de mãos dadas. Também para mim... Mas o que repentinamente me veio à mente, num silencioso início de noite de segunda-feira, foi a imagem da menininha que um dia eu fui, que em meio às brincadeiras dos amiguinho sempre se colocava de lado e se sentia sozinha. Estivesse no meio de quantas pessoas fossem, sempre fugia para algum canto e me sentia sozinha.... Tenho atribuído minha solidão e depressão a fatos recentes e me esqueci de que elas são velhas conhecidas, companheiras de toda vida.
Quando criança e adolescente, eu sonhava que em algum canto do universo havia um ser especial, minha cara metade, que completaria aquela cratera que eu trazia na alma, me salvaria de uma vez por todas da depressão e da solidão. Eu só precisava encontrá-la e ela me livraria da inquietude, do estar sempre impelida a procurar por uma plenitude necessária, que eu não encontrava em lugar algum, com ninguém. Houve momentos em que eu achei que havia encontrado, que tudo estava resolvido. Enganos, meros enganos.
Como compensação por essa falta essencial, desde muito pequena aprendi a me entreter comigo mesma. Sou minha melhor amiga. Em todos os momentos de crise só dei a volta por cima ao entrar num acordo comigo mesma. As respostas sempre estiveram em mim e foi em mim que eu as encontrei. O que aconteceu de mais grave em decorrência de fatos nem tão recentes foi o desacordo entre eu e minha voz interior. Me decepcionei com ela e ela comigo. A amizade ficou seriamente abalada. Eu digo para ela: "Como foi que você pôde cuidar tão mal de mim? Eu estava à beira do precipício e você não me puxou para trás. Você não cuidou de mim e eu só tinha você. Confiei em você e você me deixou sozinha. Como pôde permitir que eu me enganasse tanto?" E ela responde: "Eu avisei, mas você não me ouviu. Você não me deu atenção. Eu disse que estava tudo errado." E a briga persiste.
E ontem voltando pra casa depois da aula, acompanhada por uma amiga de carne e osso, falávamos sobre nossas desventuras amorosa e ela me contava sobre como se "fechou" para o amor. História triste a dela, muito triste! Mas, que é só dela. Não me cabe falar sobre. Hoje de manhã, ao inesperadamente tropeçar em alguém na rua, me dei conta de que também eu me fechei. Pensei que não, mas me fechei. Ontem disse para minha amiga que não havia ninguém interessante no meu horizonte e só por isso eu continuava sozinha. Hoje, logo de manhã, a vida me lembrou de que há, sim... Mas, enquanto eu e minha voz interior não assinarmos o tratado de paz, não há nada que se possa fazer nesse quesito. Não haverá esperanças de continuar a busca pela "cara metade" perdida no espaço e pela plenitude tão almejada.
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