Texto: Helena Novais
Em 18.08.2012
Novela não é algo que me atrai. Tenho muito vaga ideia do que a TV aberta está colocando no ar neste gênero. Porém, ontem à noite, ao transitar pela casa na hora do jantar, parei para observar o que se desenrolava na tela. Um rapaz havia descoberto quem era deu verdadeiro pai. Sua reação: espancar o pai. E a TV mostrava o filho esmurrando o pai!
Em 18.08.2012
Novela não é algo que me atrai. Tenho muito vaga ideia do que a TV aberta está colocando no ar neste gênero. Porém, ontem à noite, ao transitar pela casa na hora do jantar, parei para observar o que se desenrolava na tela. Um rapaz havia descoberto quem era deu verdadeiro pai. Sua reação: espancar o pai. E a TV mostrava o filho esmurrando o pai!
Jardim Ângela fica na zona sul da cidade de São Paulo. Bairro do qual muito se falou e se fala devido à alta concentração demográfica e altos índices de violência. Estive ali, em reunião com companheiros da Recid, por dois dias, nesta semana. Entre questões burocráticas e pedagógicas em discussão, ouvi coisas terríveis que estão acontecendo naquela localidade. Tráfico crescente, revoltantes atos de violência contra jovens e mulheres por parte de quem os deveria proteger, entre outras mazelas.
Do Rio de Janeiro, os educadores mandam notícias. Destacam as dificuldades encontradas por aqueles que insistem em trabalhar com educação popular em meio à especulação imobiliária, desapropriação para copas e olimpíadas, violência contra mulheres, preconceitos raciais, corrupção política, criminalização e extermínio da juventude, etc. Em outras áreas do país a situação não é diferente. Sempre há contra o que se indignar, sempre há violências contra seres humanos e seus direitos.
Hoje em dia, embora eu não deixe de me sentir indignada (e essa é uma capacidade que não se deve perder nunca), não me sinto surpresa. Desde 2009, quando estive no Jardim São Luis, zona leste de São Paulo, e acompanhei o caso de uma senhora que morreu sozinha em casa, em circunstâncias misteriosas, e teve sua residência invadida, saqueada e disputada pela vizinhança, não me surpreendo com mais nada. O que eu vi ali, naquela época, é que existem mundos e subjetividades de que a mídia não fala. Tudo parece homogêneo, apenas um certo e um errado pela ordem da lei, tudo e todos a serem considerados a partir de uma única perspetivas, a do Estado elitista de "direito".
Minto! Me surpreendo e me sinto ainda mais indignada com a elite gananciosa e corrupta desse país, que ano após ano, se especializa em viver da alienação da população. Me assusta a quantidade de gente que se especializa em "captação de recursos para projetos sociais", em marketing social, marketing cultural, marketing para tirar proveito da miséria alheia! Enquanto isso, nas periferias, se vive em clima de guerra civil não declarada.
Nunca nesse país a decadência cultural e de valores foi tão gritantemente e escandalosa. E Paulo Freire estava muito certo ao escrever, em Pedagogia do Oprimido, que as elites são sempre as culpadas da violência e da opressão, pois as criam e as mantém, agindo meticulosamente e estruturalmente para sua sustentabilidade. Assim, enfraquece valores e desumaniza. Esta é a "sustentabilidade" que está vencendo, a estrutural, que mantém a escravidão pela formatação do pensamento, pela desumanização, meticulosamente engendrada.
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