Às vezes o melhor conselho está diante de nós, nos olhando de cima da estante... Obrigada, Sêneca!
"Epicuro diz: 'O sábio não deve ter acesso a negócios públicos a não ser que seja obrigado'. Zenão fala: 'Exerça função pública, a não ser que haja algum empecilho'.
Desta forma, um ordena, por princípio, a vida retirada, outro pressupõe para isso uma causa, mas o termo 'causa' tem sentido amplo. Se a república estiver tão corrompida que não possa ser ajudada, se estiver toda tomada pelo mal, o sábio irá dedicar-se ao não-realizável, empenhar-se para não conseguir nenhum resultado. Acrescente-se que, se tiver pouca autoridade ou pouca força, a própria república não irá aceitá-lo se a saúde o impedisse. Assim como não se lança ao mar um navio com casco danificado, nem se alistaria no exército quem estivesse debilitado, da mesma forma não se deve empreender uma caminhada para a qual se sabe não estar capacitado.
Portanto, aquele com plena capacidade física, antes de procurar problemas, pode colocar-se em segurança e, imediatamente, dedicar-se a artes nobres, vivendo em ócio justificado, cultivando virtudes que podem ser praticadas no mais absoluto retiro.
O que se exige do homem é que seja útil ao maior número de semelhantes, se possível. Caso não consiga, sirva a poucos, ou aos mais próximos, ou a si mesmo.
Ao tornar-se útil para os demais, acaba por iniciar um trabalho comunitário. Da mesma forma como quem se degenera prejudica não apenas a si, mas também a todos os quais poderiam prestar auxílio caso fosse melhor, quem se aprimora apenas por isso já beneficia os outros, já que apronta quem vai poder beneficiá-los no futuro."
Sêneca, In "Da Vida Retirada"
.