Sábado de manhã. Desperto num dia úmido e cinzento. Quero ir, mas quero ficar; quero partir em busca, mas sei que o que procuro não pode ser encontrado neste mundo. Muitas decisões em aberto. E nada me inquieta mais do que esperar o momento certo, que pode nunca chegar ou passar despercebido, sorrateiramente.
Uma amiga convidou para passar o dia em Embu das Artes. Agradeci, me desculpei por não poder ir. Preciso colocar o trabalho em dia. Mas o trabalho, quando atrasa, é porque desperto precisando ir, precisando ficar... Pois decido que vou me permitir ir, ficando. Pelo menos a metade do dia vou passar lendo numa tentativa de serenar a alma.
Sempre me surpreende como os livros colocam diante de meus olhos as respostas para minhas inquietudes... Abro um texto do Sêneca a esmo e dou de cara com uma síntese das minhas aflições. Diz ele:
“Mas em nada interessam as causas da tristeza particular, já que, às vezes, nos ocupa o ódio pelo gênero humano, quando se pensa quão rara é a simplicidade, quão desconhecida é a inocência e como raramente, salvo algum interesse, permanece a felicidade. Dessa forma, faz-se presente a maldade interessada nos lucros e danos, impulsionada pela ambição que não se contém em seus limites.
Então, a alma penetra na escuridão, porque diante da falência das virtudes, das quais nada mais se espera, já que não as possui, só lhe resta penetrar nas trevas.” (Sêneca, Da Tranquilidade da Alma)
Por toda a minha vida eu tenho procurado por aquele espaço onde estejam pessoas com os mesmos ideais que os meus. Onde, acima de tudo, paire uma única palavra: lealdade. Como é necessário ter onde se fortalecer para enfrentar o lodaçal no qual todos afundam! Como é necessário sentir-me em casa, protegida por braços amigos, palavras sinceras e boa vontade inquestionável... Porém, não há lugar seguro sob o céu.
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