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O Choro dos Sábios







Estava eu entretida com minhas atividades diárias quando se destacaram vozes de crianças, vindas do outro lado do muro... Minha vizinha tem uma linda garotinha de 5, 6 anos e está hospedando os sobrinhos, pouco mais velhos, em férias. E a mais nova, se sentindo deixada de lado, extravasava a sua frustração com um "eu quero brincaaaaaaaaaaaaaaar"... Seguido de um estridente "buáááááááááá"... Todos acudiram num coro de "mas você vai brincaaaar", enquanto a pequenina aumentava o volume e prolongava publicamente a sua sinfonia íntima.





Eu não seria sincera se dissesse acreditar ser capaz de retomar minhas emoções infantis. Não sou. Da minha infância guardei imagens esmaecidas, vultos, uma ou outra passagem mais forte. Minhas manifestações ocasionais de criancice já são adultas. Mas, hoje a pequena Nicole me fez pensar que mais sábias são as crianças que choram... Adulto tende a não chorar e acumular todos os gritos da alma  em si. Gritos que ecoam numa câmara de angústias, que vão e vem até aquele momento fatídico em que a gente explode ou implode em crises depressivas e rios de lágrimas que não acabam mais.





Chorar faz bem, já diziam os antigos. Mas, gente grande chora escondidinho e olhe lá. Chorar em público é coisa de coitadinho, dizem, e ninguém, em sã consciência, quer passar por coitadinho. Gritar, pior ainda... É coisa de gente neurótica, descontrolada, barraqueira... A gente vai acumulando ofensas, decepções, frustrações que desaguam em melancolia, raiva, agressividade, violência nas suas mais variadas formas... Oras, nada de gritar ou chorar, seja "sofisticado" expressando seus gritos interiores com comportamento arrogante, sendo sarcástico, paranóico, cruel... Afinal, energias negativas acumuladas também ocupam espaço e acabam não cabendo dentro de um único corpo. É preciso espalhá-las. E a gente as espalha, conscientemente ou não. 





Chorar é preciso e sozinho é melhor, pois é momento de olhar-se e não de ser olhado. Faz bem, sim! A gente só não pode se entregar a uma choradeira sem fim e ficar com pena de si mesmo. Há tempo para chorar um choro sentido; há tempo se dizer "ok, agora chega", levantar e ir viver.





Neste 2013 eu quero chorar todas as vezes que for necessário... Mas não quero gritar, ser arrogante, sarcástica, paranóica, maldosa, cruel nem nada disso... Quero é que a vida leve para longe de mim tudo o que me fez e faz mal, tudo o que faz com que eu faça mal a outros, principalmente lembranças... Quero é limpar a alma de tudo de ruim e sorrir o riso das crianças... Não é pouco, eu sei. 


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