Pular para o conteúdo principal

Instante






Sou descuidada, atrapalhada na minha espontaneidade. Certa vez cometi o ato temerário de dizer para um estranho o quanto sua presença me era luminosa. Temeridade desastrosa que transformou luminosidade em trevas, beatitude em trauma. Hoje, me calo. A vocação humana para buscar a eternidade não acredita no inusitado nem na ausência de ambições fora do padrão. Como todos almejam o eterno, expressar sentimentos pode soar como notificação de cobrança prévia. Daí que falar sobre emoções pode ser tudo o que não se deve fazer.





Hoje, sou bicho escaldado que faz cara de indiferente, mesmo quando enfeitiçado pela luz. Mas, há muito tempo sei ser possível encontrar a eternidade em momentos mudos, quando seres humanos que se identificam, almas afins, se encontram e se fazem companhia mesmo que por pouco tempo. Quando há risos verdadeiros e espontâneos de almas nuas descuidadas, o mundo fica perfeito. E viver isso hoje é das poucas coisas capazes de me surpreender. 





Escondidos na foto, eu e o Alefh brincando de fixar o instante do reflexo no espelho de um elevador. Ele educador de Tocantins, eu de São Paulo, nos encontramos em Porto Alegre, dias atrás. Esse moço aí, pela primeira vez, me fez lamentar ter deixado passar a chance de ter um filho há vinte anos atrás. Talvez meu filho fosse como ele, idealista engajado, educado, gentil, companheiro atento, alguém que trata a todos de igual para igual, sem melindres, sem preconceitos, sem divisões. Alguém que olha nos olhos sem disfarces, que abraça sem malícia, que fica junto sem reservas, que participa sem vaidade, alguém descuidado, atrapalhado na sua espontaneidade... Como eu quero estar rodeada de gente assim, gente que faz a gente se sentir mais gente, sem idade e sem medo de ser gente plenamente! Poucos, raros.





.