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Mensagem na Garrafa, Ano IV



Escrever para você para mim. Estou me devendo isso há tempos. Uma peregrinação por minhas contradições, uma sondagem em busca de conclusões. 

Mais um ano que pensei impossível... Esqueci? Não esqueci, assimilei, dilui. Ou ainda estou em processo fluído. E então nem sei mais para quem escrevo, se para você, para mim, para nós... Para ninguém! 

Quem são os sujeitos desse drama? Não sei quem são. Sei que o drama é subjetivo e contínuo em sua singularidade, que o roteiro não acaba nunca, pois significados são infinitos quando sobrevivem a esmo. Sei que as mensagens são desconsideradas, abandonadas num quarto de despejos, como você faz com tudo que não lhe sussurra, sem alterar tempo e espaço com turbulências mínimas. 

Sou contraditória, sim... Digo sim, seguido de não. Tenho medo de saltar no vazio sem paraquedas. Pânico que suas nuances não aliviam.  E nunca soube o que fazer com você. Torcê-lo após lavagem, secá-lo com toalhas felpudas? Testei as duas opções. Aprendi que mais forte do que eu é o algo em você que te nega a si. Seu inimigo íntimo. O mais poderoso! Dele não sei o que pensar, com ele não sei o que fazer. E não sei sintetizar você porque há muitos em você, muitos que se relacionam numa dinâmica incompreensível até para mim. 

Tempo, paciência, naturalidade, nada é suficiente. E aquele medo da falta de paraquedas inibe até minhas conjecturas... Não aposto em mais nada. Só sei que nada sei. Tudo pode ser imaginação, ilusão, fantasia. Tudo pode evaporar, consumir-se... Tudo o que é sólido desmancha no ar... Até você! Não fazem mais sentido histórias de certo e errado. Não há sentido no certo e no errado. Há esfacelamento de conceitos. Eles não valem nada, como suas palavras nunca valeram nada. 

Mas palavras deviam ser sagradas, algo pelo qual a gente guarda devoção, pedaços de um código a ser honrado. Apesar de suas variáveis flutuarem em águas agitadas, palavras são nosso elo de ligação à distância. Deviam ser sagradas! Me espanta a desonra... Indigna desonra das palavras, que nubla seu valor por sua indiferente crueldade alienada. 

Me nego a escrever o principal, aquele que sintetiza cada uma das minhas linhas... Este você decifrou desde sempre, entre elas... Não mudou.  Atravessa os anos em sua homenagem... Nós merecemos. De alguma forma, merecemos... E em cada segundo, com sua imagem diante dos olhos, torço para que você sobreviva e se sobreponha... Se você existe.

Feliz Natal!