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News From Nowhere






Ando meio distante da Internet, longe de redes sociais e só escrevendo por relâmpagos. Não é por falta de assunto. Também não me vejo como uma embalista entediada em fim de moda passageira. Estou na Internet há tantos anos que ela é parte estabelecida do meu modo de viver e não uma fase. Ocorre que vivo um momento de recolhimento, me reinventando, me reajustando. 





Neste ano, renasci e fui fazer coisas que há anos não fazia. Também me aventurei a fazer outras que nunca havia feito. E tenho levado muito a sério o tal "fazer da vida uma obra de arte". Como para isso não existe receita pronta, estou fazendo meus próprios testes. Decidi, por exemplo, que minha casa precisava de uma cara nova e que providenciá-la seria o fundamento do meu recomeço. Decidi que eu escolheria e compraria as tintas, os pincéis, os acessórios, que eu pintaria as paredes e janelas. Não houve contrariedade de mãe que me fizesse mudar de ideia. E decidi mais: que não darei mais ouvidos a quem freia minha expansão. Não considerarei mais o "isso é coisa de homem", o velho jogo do certo e errado, do isso pode e aquilo não pode sem motivos razoáveis. Frustrações concedidas, não mais. 





Venho dedicando muito tempo a este projeto que, na verdade, é simbólico. Um transformar-se por dentro por gestos e pelo cuidado pelo que me é exterior. Um sair de mim para o mundo, um retornar a mim pela sensibilidade proporcionada pela criação concretizada. Transformo o ambiente e ele me transforma. Quem sabe não acabe descobrindo uma real vocação artística.





E tenho me reaproximado dos amados livros. Eles, que estiveram em terceiro plano na maior parte do ano, reassumem sua importância. Além da biografia do Stieg Larsson, estou começando o "Cosmópolis" do Don Delillo. O filme esteve em cartaz em São Paulo por pouquíssimo tempo e acabei perdendo a chance de assistí-lo na telona. O DVD nacional ainda não foi lançado. Mas, estou com o livro em mãos. É a história de um executivo milionário que atravessa a cidade de Nova York para cortar o cabelo em meio à uma crise econômica sistêmica. Curiosamente foi escrito em 2003, portanto bem antes da última crise sistêmica, a de 2008. Limitado ao interior da sua limusine, o pobre menino rico entra em colisão com seu próprio vazio existencial... Crise existencial de executivo niilista é meio previsível, mas me interessou pelo contexto que parece bem atual.



Nas primeiras páginas já dá para percebe que Eric Packer, o personagem, de simplório não tem nada. É extremamente inteligente e sensível. Não poderia ser diferente, afinal um jovem de 28 anos que enriqueceu às custas de especulação financeira não pode ser alguém superficial ou banal, o que só torna a leitura do livro mais interessante.  



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