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Mostrando postagens de 2014

Mensagem na Garrafa – Ano 0, Número 1

Tudo o que eu mais quis foi ser uma pessoa comum com uma vida comum. Quando criança, quis uma família padrão; quis ser popular na escola, como as outras crianças. Mais tarde, quis continuar os estudos e ter a vida de uma adolescente comum, com amigos, namoradinhos, festinhas, passeios e viagens comuns. Mas, nunca me senti bem em festas, jamais me ajustei aos jogos sociais. Quando adulta, quis um trabalho normal com salário normal, com rotina normal e relacionamentos comuns. Mas, as coisas nunca acontecem comigo como acontecem com todo mundo, comumente. E Deus sabe o quanto eu tentei ser apenas comum.  Qualquer pessoa comum, talvez um tantinho alienada, parece mais feliz do que quem anda escavando a essência de todas as coisas. Quem me dera ter o dom de me acomodar às superfícies, sem me perguntar pelas causa, pelas estruturas, pelos efeitos, pelas condições, possibilidades e combinações!  Minha última tentativa de ser comum teve o peso de uma sentença de morte. Aquele ser que ...

Em Dúvida

“Eu não tenho mais paciência com a ausência de dúvida”... Eu disse esta frase ontem, em meio à conversa com uma amiga, e no instante em que a verbalizei me surpreendi, pois me parece expressar muito bem minha angústia atual. Incompreensível como tanta gente estudada, diplomada, se acha tão dona da verdade, tão disposta a considerar o horizonte limitado do que podem perceber como a verdade global e absoluta! Julgam e sentenciam tudo e todos de acordo com... Nada! Ou de acordo com as próprias alucinações... Eu duvido do que posso ver, ouvir, enxergar, concluir, duvido de mim... E isso vem de muito antes de estudar Descartes e sua dúvida metódica, de muito antes de saber que Nietzsche entende que todo ser vivo é solitário irremediavelmente, pois não pode comunicar suas percepções, sentimentos, pensamentos mais íntimos, mais intrínseco. Vem se muito antes de perder as ilusões com a minha própria capacidade de conhecer totalmente as minhas reais motivações.  Sou um labirinto, um paradox...

Robin Willians (1951 - 2014)

Eis o mundo em que idealistas e humoristas se suicidam ... E psicopatas estão no poder! Hoje o dia está mais cinza ...  "Ó capitão! Meu capitão! terminou a nossa terrível viagem, O navio resistiu a todas as tormentas, o prêmio que buscávamos está ganho, O porto está próximo, ouço os sinos, toda a gente está exultante, Enquanto segue com os olhos a firme quilha, o ameaçador e temerário navio; Mas, oh coração! coração! coração! Oh as gotas vermelhas e sangrentas, Onde no convés o meu capitão jaz, Tombado, frio e morto. Ó capitão! meu capitão! ergue-te e ouve os sinos; Ergue-te – a bandeira agita-se por ti, o cornetim vibra por ti; Para ti ramos de flores e grinaldas guarnecidas com fitas – para ti as multidões nas praias, Chamam por ti, as massas, agitam-se, os seus rostos ansiosos voltam-se; Aqui capitão! querido pai! Passo o braço por baixo da tua cabeça! Não passa de um sonho que, no convés, Tenhas tombado frio e morto. O meu capitão não responde, os seus lábios estão pálidos e i...

O Filósofo, este inútil!

São Paulo, 8 de agosto de 2014. A Folha de São Paulo publicava no alto da primeira página uma foto cinzenta. Uma cidade envolta em brumas. Legenda: "camada de poluição cobre São Paulo, que teve umidade relativa do ar mínima de 19,3% nesta quinta e entrou em estado de alerta" . O recomendável é um mínimo de até 30%, sendo que 16% é  a média do deserto do Saara. Poluição, ar seco e seca. O nosso governador de Estado, membro de um partido que está há décadas no poder, parece acreditar que a culpa é de São Pedro. O santo esqueceu sua obrigação de fazer chover sobre nós! E ele, o competentíssimo governador parece reivindicar seu lugar também no reino dos céus em substituição ao santo incompetente. Nosso governador contratou uma empresa para pulverizar as nuvens e fazer chover... Merece ou não merece o nosso voto?! Na ex-terra da garoa, atual terra da seca, se inverteu a lógica ambiental. Há décadas o mundo fala em sustentabilidade, após ter falado por décadas em preservacionismo. ...

Manifesto a Favor dos Sonhos

Minha teoria sobre best sellers e blockbusters: eles dizem o que as pessoas precisam ouvir e por isso fazem tanto sucesso. Um exemplo é o nosso Paulo Coelho, que caiu no agrado do público numa fase new age em que cristais, duendes, fadas e bruxinhas causavam sensação no comércio e colocavam personagens de sonhos encantados como parte do dia-a-dia. Nunca achei Paulo Coelho um grande escritor, mas suas histórias são boas à medida que motivam a superar dificuldades diárias e lutar por nossa “lenda pessoal”. Por consequência, o autor é reconhecido e bem recompensado.  Num primeiro momento, para alguns, render-se às leis de mercado é algo condenável, considerando que um escritor seja um artista e que um artista, supostamente, coloca a liberdade e sinceridade de sua expressão mais íntima em primeiro lugar. Assim, a arte não poderia ser utilitária. Porém, as fronteiras nunca são claras e distintas. Ainda mais hoje em dia em que algozes e vítimas somos, ao mesmo tempo, todos nós....

Psicologismo

Na minha colação de grau o diretor da faculdade disse que os formandos de Filosofia estavam preparados para atuar como “Psicólogos”. Creio que ele quis dizer que poderíamos atuar no campo da Filosofia Clínica. Para mim, que nunca havia pensado seriamente nisso, foi uma surpresa. Achei (e ainda acho) que um Filósofo Clínico deveria ter uma preparação especial. Michel Foucault, por exemplo, estudou Psicologia antes de Filosofia. Eu mesma, porém, quando pesquisei sobre Foucault foi enfocando Epistemologia e não Psicologia.  Mas, a área não é algo distante das minhas propensões naturais. O meu normal é querer passar despercebida. Gosto disso, pois enquanto não sou observada, observo. É algo espontâneo na estudiosa das coisas do mundo que eu sou. Embora não tenha intenções utilitárias ou de fazer julgamentos, classificar e reconhecer padrões por mera constatação de semelhanças acaba sendo inevitável.  Imaginação, ilusão, fantasia, delírio são elementos que têm chamado a minha atenç...

Count Zero

E lá se foi Count Zero... Terminei. Não sei dizer quando começou a onda de trilogias na literatura (como se já não bastasse no cinema), mas acho pouco provável que ao publicar Neuromancer, há vinte e cinco anos, William Gibson tivesse em mente escrever continuações. Frequentemente, elas são escritas mais por razões mercadológicas do que propriamente artísticas.  De qualquer forma, Neuromancer e Count Zero são obras muito diferentes em suas estruturas. A primeira se constitui de narração contínua, que se apoia em sobreposições de estado de consciência, alternância de subjetividades focadas em espaços objetivos e virtuais. Desmembramentos e associações como eu nunca havia lido... Na época de sua publicação, espaço virtual era uma coisa bem pouco compreensível para os não iniciados em informática. Mesmo hoje, em época de inclusão digital mais avançada, correlações e implicações não são tão óbvias. Consequentemente, Neuromancer não é um texto fácil e deixa margem para especulações filo...

Count Zero II

"— Você está aqui, não está? — ela falou alto, acrescentando à ressonância do som as ondulações e reflexos de sua voz fragmentada. Sim, estou. — Wigan acha que você sempre esteve aqui, não é? Sim, mas não é verdade. Eu vim a existir, aqui. Antes eu não existia. Houve um tempo, um tempo brilhante, um tempo sem duração, em que também estava em todo lugar... Mas o tempo brilhante se partiu. O espelho era imperfeito. Agora eu sou apenas um... Mas tenho minha canção, e você a ouviu. Canto com essas coisas que flutuam em volta de mim, fragmentos da família que fomentou o meu nascimento. Há outros, mas eles não querem falar comigo. Vaidosos, os fragmentos espalhados de mim mesmo, como crianças. Como homens. Eles me mandam coisas novas, mas prefiro as coisas velhas. Talvez eu faça a vontade deles. Eles conspiram com homens, os meus outros eus, e os homens imaginam que eles sejam deuses... — É você o que Virek procura, não é? Não. Ele imagina que pode se traduzir, que pode codificar sua p...

Count Zero I

"Era um pouco como andar em uma montanha-russa que aleatoriamente entrasse e saísse da existência, em intervalos impossivelmente rápidos, mudando de altitude, ângulo e direção a cada pulso da inexistência. Exceto que os deslocamentos não tinham nada a ver com qualquer orientação física, mas sim com alternâncias instantâneas no sistema de símbolos e paradigmas. Aqueles dados nunca se destinaram ao acesso humano.  Com os olhos abertos, tirou o objeto do soquete e segurou-o na mão, lisa de suor. Era como acordar de um pesadelo. Não um horror, no qual os terrores internos assumiam formas simples e terríveis, mas o tipo de sonho infinitamente mais perturbador, em que tudo é perfeita e terrivelmente normal... e em que tudo está completamente errado. A intimidade da coisa era repulsiva. Lutou contra as ondas de transferência bruta, usando toda a sua vontade para aplacar um sentimento que se aproximava do amor: a ternura obsessiva que um observador vem a sentir pelo objeto de uma longa vi...

Neuromancer, de Willian Gibson (IV)

Depois de anos de voltas e revoltas em tentativas de ler o e-book de Neuromancer, topei com a versão impressa da editora Aleph na Biblioteca Aureliano Leite. Aí sim, devorei o textos em poucos dias e desisti de tentar ler e-books. Para mim livro é de papel ou nada feito. O simples virar de páginas é um ritual reconfortante e indispensável.   Neuromancer de Willian Gibson foi concluído em 1983. É uma das obras mais importantes de toda a ficção científica e em especial do subgênero chamado Cyberpunk . Deu origem a Johnny Mnemonic, o filme de 1995 com Keanu Reeves, e serviu de inspiração para a trilogia Matrix, lançada a partir de 1999 e também estrelada por Reeves. É o primeiro livro da chamada trilogia do Sprawl, que se completa com Count Zero e Mona Lisa Overdrive.  O grande mérito de Neuromancer é ter previsto boa parte das inovações científicas e tecnológicas surgidas nas últimas décadas, como biotecnologia, rede de computadores, realidade virtual, implantes cibernéticos e ...

Por Aqui

Este blog, que sempre foi tão pessoal, anda meio impessoal e jogado às traças. É que entrei numa fase de menos lamúrias e mais pé no chão. Desde começo de março venho trabalhando numa regularidade confortável. Com constância, porém sem corre-corre estressante e horários estapafúrdios. E me impus certos limites, como não me prolongar no computador e na Internet após o horário de trabalho.  Sim, venho me impondo horários. E após uma queda, que me colocou em repouso forçado por mais de uma semana, também me coloquei a meta de não permanecer aberta a desastres. Eu sei o que me faz mal, o que causa minhas crises de enxaqueca nervosa, minha pressão alta e vertigens causadoras de quedas tanto literais quanto simbólicas.  Então, mudei caminhos e restringi encontros. Ando cuidando de mim, tomando a responsabilidade pelo meu próprio bem-estar. Estou conseguindo, finalmente. E desde o fins do ano passado venho retomando o hábito da leitura desregrada. Perambulo por bibliotecas e livraria...

Valesca, a polêmica

Helena Novais, em 14.04.2014. E eis que me vejo na obrigação de parar tudo para escrever o que penso a respeito da polêmica que estourou na semana passada sobre a grande pensadora brasileira Valesca Popozuda. Isto, para que minha opinião fique clara até para mim mesma. Pode ser que depois deste texto também a minha capacidade como “pensadora” seja questionada. Paciência! Em primeiro lugar, ao contrário dos colegas filósofos, ou seja, “pensadores”, o que me chamou a atenção não foi que um professor de filosofia colocasse uma questão de múltipla escolha sobre Valesca Popozuda numa avaliação (não é função da filosofia investigar conceitos e fenômenos?). Muito menos que o enunciado se referisse a ela como uma “grande pensadora” (e a ironia socrática?). O que me deixou um tanto quanto estarrecida foram os comentários debochados, de uma agressividade velada ou explícita e sempre cruel para com a moça em questão e, acima de tudo, superficiais quando vindos de quem se entende como ...

Neuromancer, de Willian Gibson (III)

“— Ei, Case — ela disse, mal pronunciando as palavras. — Está escutando? Vou te contar uma história... — Ela se virou e inspecionou o corredor. — O nome dele era Johnny. (...) — Sabe, meu Johnny era um garoto muito inteligente, supersacado. Começou como armazenador em Memory Lane, tinha chips na cabeça e as pessoas pagavam para esconder dados ali. A Yak [Yakuza) estava atrás dele na noite em que a gente se conheceu, e eu matei o assassino deles. Foi mais sorte do que qualquer coisa, mas fiz aquilo por ele. E, depois disso, as coisas foram muito bonitas, Case. — Os lábios dela não se moviam. Ele a sentia formar as palavras; não a ouvia formá-las em voz alta." (p. 208) "— Nós tínhamos um esquema com um SQUID, para podermos ler os vestígios de tudo o que ele já havia armazenado na vida. Salvamos tudo aquilo em fita a e começamos a espremer clientes selecionados, ex-clientes. Eu cuidava da bagagem, da vigilância e da porrada. Eu era feliz de verdade. Você já foi feliz, Case? Ele ...

Neuromancer, de Willian Gibson (II)

“— Parece que é sim. Escuta, Dix, e me dê o benefício de seu background, ok? Armitage parece estar montando uma incursão em uma IA que pertence à Tessier-Ashpool. O mainframe fica em Berna, mas está linkado a outro no Rio. O Rio foi o que te deixou com linha morta daquela primeira vez. Então, parece que eles se linkam via Straylight, a base da T-A, lá no final do fuso, e a nossa missão deveria ser abrir caminho cortando com o ICE-Breaker chinês. Então, se Wintermute está bancando esse show todo, está nos pagando para queimá-lo. Ele está queimando a si mesmo. E alguma coisa que chama a si mesmo de Wintermute está tentando cair nas minhas graças, tentando fazer talvez com que eu pegue o Armitage. Qual é a parada? — Motivação — disse o constructo. — Problema verdadeiro de motivação em uma IA. Não é humana, entende? — Sim, claro, ora. — Não. Quero dizer, ela não é humana. E você não tem controle sobre ela. Eu também não sou humano, mas eu reajo como um. Entendeu? — Espera um segundo — d...

Neuromancer, de Willian Gibson (I)

“Na época, operava num barato quase permanente de adrenalina, subproduto da juventude e da proficiência, conectado num deck de ciberespaço customizado que projetava sua consciência desincorporada na alucinação consensual que era a matrix. Ladrão que trabalhava para outros ladrões, mais ricos, empregadores que forneciam o software exótico necessário para penetrar as muralhas brilhantes de sistemas corporativos, abrindo janelas para fartos campos de dados”. (p. 24) “ Danificaram seu sistema nervoso com uma micotoxina russa dos tempos da guerra. Amarrado a uma cama de um hotel em Memphis, seu talento queimando mícron a mícron, alucinou por trinta hora.  O estrago foi minucioso, sutil e profundamente eficiente. Para Case, que vivia até então na exultação sem corpo do ciberespaço, foi a Queda . Nos bares que frequentara no seu tempo de cowboy fodão, a postura da elite envolvia um certo desprezo suave pela carne . O corpo era carne. Case caiu na prisão da própria carne”. (p. 24) “Juliu...

In Memorian

Ele foi um homem meio temperamental e a maior parte de seus funcionários tinha medo dele. Uma de minhas amigas mais queridas foi sua secretária e o detestava. As pessoas temem a combinação de dinheiro com poder, isso sim. Fosse um “zé ninguém” com crises ocasionais de fúria e não dariam maior importância, talvez até achassem engraçado. Mas temem quem pode mudar o curso de suas vidas com uma frase. E ele podia. Eu, por natureza, não o temia, pelo contrário. Ele sempre me tratou bem, sempre foi até surpreendentemente gentil e educado e meus sentimentos primeiros por ele eram como os de uma filha para com um pai. Eu o respeitava e me sentia protegida. De cara percebiam que tínhamos algo em comum, a pinta no meio da testa (que mais tarde ele retirou por recomendação médica), coincidência que curiosamente causava certos incômodos para terceiros.  Quem já trabalhou conhece bem o tipo: o chefe que se sente ameaçado e espalha intrigar por onde passa, jogando uns contra outros, envenenando ...

Silence

“A vida é puro ruído entre dois silêncios abismais. Silêncio antes de nascer, silêncio após a morte.” ― Isabel Allende   Arte de Skripchenko Lyudmila Andreevna. .

Silêncio

E eu me calo. Vejo coisas que me agradam e me calo. Ouço coisas que me irritam e me calo... Tenho o sentimento de quem jogou palavras ao vento por tempo demais inutilmente. Inútil porque ninguém ouve. Inútil porque eu não me ouço enquanto grito.  Não sei quem disse que quando não soubermos mais o que nos faz feliz é só lembrar o que ficou para trás... Acho que foi Viktor Frankl, o homem que glorificou os sentidos... E olhei para trás... Mais do que voltar-se é preciso ser sincero sobre o que ficou lá trás (ou não ficou?). E é preciso ter boa memória para que o mau não pareça bom, para que o sonho não pareça real, para que possibilidades não se confundam com fatos. Para que fatos não sejam corrompidos pelo medo! Mas, olhei para trás...Senti que devia retornar ao âmago das coisa. Ao meu âmago das coisas. Quando não se pode ir adiante permanecer não é opção. O que estaciona morre. O retorno ainda é movimento. E foi lá atrás que encontrei os sentidos dos quais não me lembrava.  A ...

Entrevista Com o Vampiro

No final deste mês de abril Anne Rice estará lançando  o mais novo livro da sua série Crônicas Vampirescas, que volta a ser protagonizada pelo Vampiro Lestat, desaparecido da literatura há mais de uma década.  Meu texto para o versão cinematográfica do primeiro livro da série foi originalmente publicado no Cine Players, em agosto de 2008. E dizia...   "O mal é um ponto de vista (...)  Deus mata, assim como nós; indiscriminadamente. Ele toma o mais rico e o mais pobre, assim como nós;  pois nenhuma criatura sob os céus é como nós, nenhuma se parece tanto com Ele quanto nós mesmos, anjos negros não confinados aos parcos limites do inferno, mas perambulando por Sua terra e por todos os Seus reinos. " – Lestat de Lioncourt A origem mitológica dos vampiros perde-se no tempo. A crença nesses seres é universal, verificável nas civilizações mais primitivas e mais distantes entre si. Encontra-se documentada no Egito, na Mesopotâmia, na Grécia, em Roma, na China, na Améri...

Dom Casmurro, de Machado de Assis

Eu nunca havia pensado que poderia sentir por um texto antigo a mesma sensação de observar uma foto antiga... Escrevi este texto há uns vinte e cinco anos, pelos menos. Estava no então chamado Colegial. Ele faz parte de um trabalho maior com biografia do autor, resumo do livro e outros tantos quesitos analíticos (no sentido leve do termo) pedidos pela professora de Literatura. E por ter ficado muito contente com o resultado, guardei as laudas, que foram datilografadas em máquina manual. Vira e mexe esbarro nelas ao colocar ordem nos meus arquivos. Ontem parei para ler e fiquei me perguntando que raios eu entendia por "discurso", "problema de identidade", "consciência de descontinuidade", etc., naquela época... Enfim, como eu sugeri no meu texto sobre a Valesca Popuzuda, às vezes a gente não sabe que sabe, mas já sabe... Segue meu velho texto com pretensões de análise crítica, tirado de folhas amareladas pelo tempo. Me fez pensar que de lá pra cá, em mim, s...