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Mostrando postagens de 2021

2021

O segundo ano de uma tragédia anunciada... Nunca o Brasil perdeu tantas vidas em consequência de uma crise de saúde e política, e ética... Tenho me sentido impotente para escrever sobre o Brasil de hoje, pois sinto falta de palavras que expressem a intensidade da minha indignação, principalmente, com um bando de políticos sentados encima de 150 pedidos de impeachment enquanto brasileiros passam fome e o país agoniza... No ápice dos fatos e emoções nenhuma palavra dá conta e, francamente, me sinto exausta.  2021 também foi o  ano em que descobri os desconfortos da diabetes e de uma hérnia de disco, que se somam a uma enxaqueca nervosa crônica. E vendo tanta gente de cabelos brancos comecei a entender tinta de cabelo como a coisa mais banal do planeta. Então, me sinto como uma velhinha dolorida e sem disfarces. E tem algo de libertador nisso. Que bom não mais me sentir na obrigação de interpretar papéis que não me cabem! Quando jovem eu achava, mesmo, que o mundo poderia ser tra...

As Linhas Tortas

Sinto saudades da cobertura da USJT… No meu último ano normal de curso, há exatos dez anos, eu costumava me isolar naquelas alturas, de onde observava os arredores e a distância... Minhas lembranças daquele lugar merecem passar por uma purificação. O que houve de bom não deve permanecer soterrado por ocorrências ruins. Afinal, não posso dizer que não realizei sonhos e que os realizei naquele prédio. Sonhos que, inclusive, permitem realizar outros. Minha intenção sempre foi adquirir conhecimentos que me permitissem escrever textos informativos, análises bem fundamentadas. Nunca quis escrever banalidades. 14 de Outubro de 2021 é a data de publicação do meu primeiro livro, “O Super-Homem Para o Além do Transumano” (por enquanto disponível apenas em versão digital na Amazon). É minha dissertação de Mestrado com alterações. Trata da relação da ética nietzschiana com o transumanismo, movimento filosófico que defende o aperfeiçoamento da espécie humana pela aplicação do conhecimento tecnocien...

Dor

Ao escrever, sempre menciono Nietzsche aqui e ali. Sem dúvida, li mais os seus textos e, nos últimos anos, estive mais envolvida com reflexões acerca de seu pensamento. Porém, na verdade, não posso afirmar que ele seja meu filósofo preferido. Nietzsche divide esse posto com Spinoza. Estudei Spinoza no primeiro semestre de 2010. Confesso que não me lembro dos detalhes do que aprendi na época. Me lembro do essencial e do impacto que exerceu sobre mim. Tudo começou quando ouvi a frase “o corpo é memorioso”. Significa que tudo o que é vivido não é guardado apenas pela mente e sim pela totalidade do corpo físico. Entendo que o corpo, sendo uma configuração de energias, também é um complexo físico-químico que converte energias em um sistema formado por órgãos que se relacionam entre si. Tudo o que o corpo vive, imerso no meio ambiente e no contexto social, o impacta em sua totalidade e o transforma. Daí que o passado está presente no corpo hoje.  Assim, eu sou, hoje e sempre, a soma de t...

Sobre a Crise da Universidade Pública

  Em algum lugar tenho guardado um livro didático de Filosofia, edição antiga que tem uma tirinha sobre a adolescência… Sobre o tema a autora diz que adolescência é a fase em que a criança, deixando de ser criança, começa a explorar o mundo, para além do grupo familiar e do ambiente escolar, e passa a reclamar seu direito de viver de acordo com a própria vontade. O adolescente quer ser independente! Mas, é um independente que ainda vive na casa dos pais e da mesada dos pais. Tal situação me lembra a universidade pública brasileira. Se diz autônoma, mas ocupa espaços públicos e depende totalmente de recursos públicos. O adolescente tem dois caminhos possíveis: se submeter à vontade dos pais e ir prolongando a permanência na adolescência indefinidamente; ou emancipar-se por meio dos estudos e do próprio trabalho. Em ambos os casos, o normal é que não hajam rupturas radicais e que se entre em algum acordo de convivência, pois geralmente há muito amor envolvido. No caso da universidade...

Academicamente

No início de 2020, eu vivia a expectativa da finalização do meu Mestrado em Filosofia. Dissertação concluída, banca definida, evento marcado. Aconteceria em fins de fevereiro, no Campus São Bernado da UFABC. E veio a pandemia... Primeiro a defesa foi transferida para um dos auditórios do campus Santo André, com espaço amplo para favorecer o distanciamento entre os presentes. Depois a defesa foi cancelada. A universidade prorrogou todos os prazos de qualificação e defesa em 90 dias, e os campus de tornaram área de acesso restrito. Todas as atividades administrativas, e mais tarde também as pedagógicas, passaram a acontecer a partir de home office, a distância. Diante de uma crise de saúde tão séria e providências tão drásticas, mais do que depressa a UFABC colocou todo seu corpo docente, dissente e administrativo debaixo das asas. E com essa sensação de estar protegido, tanto quanto possível naquele momento, os professores idealizaram projetos relacionados ao enfrentamento da pandemia. ...

Dos Fortes

Já escrevi por aqui que tenho muito em comum com Nietzsche... Incômodas dores de cabeça, são exemplo... Como é de conhecimento geral, o filósofo desenvolveu uma série de sintomas de uma doença não diagnóstica, que culminaram com o colapso nervoso que o deixou prostrado nos dez últimos anos de sua vida. Contam seus biógrafos que ele tinha terríveis dores de cabeça... Eu tenho enxaqueca nervosa desde meus nove anos.  Nos últimos anos, as minhas crises vêm se tornando mais difusas, mais sorrateiras, mais intensas. Elas vão chegando aos pouco, camufladas, até se imporem. No auge, tudo o que me resta é buscar a escuridão de algum quarto silencioso. E não pode me faltar o estoque de dipirona sódica. Depois do auge, livrar-me da sensações de ter veneno correndo nas veias demora dias. É uma intoxicação seguida de uma purificação. Intoxicação de energias ruins... Melhor evitar. E ao longo da vida, aprendi muito sobre evitar. Aprendi que evitar também é me respeitar, cuidar de mim.  Da...

Cinzas

Enquanto os livros são minha porta de saída de mundos desinteressantes para universos surpreendentes, a música sempre foi e sempre será minha fonte de força e equilíbrio. Eu transito entre livros e música, desde sempre.  Desde que foi anunciado o falecimento de Alexi Laiho, no início de janeiro, o universo do heavy metal assiste a uma briga mesquinha e vergonhosa entre suas duas esposas. Enquanto a primeira e oficial compartilhava suas fotos e memória, a última companheira passou a hostilizá-la e difamá-la nas redes sociais e nos canais de mídia. Como se não bastasse, até o funeral se tornou motivo de disputa e agora estão brigando para decidir quem vai enterrar as cinzas. Enquanto isso, os fãs de heavy metal, que são muito apegados a seus "heróis", assistem a essa disputa insana.  Depois das acusações feitas no  Ilta-Sanomat , que a família quer exibir como se fosse um troféu (embora a questão não se resuma a isso), perdi a paciência e me vi lembrado as senhoras envolvid...

ATO I, Ressignificar

Confesso que não sou uma pessoa muito normal. Sou tímida, de uma timidez pouco evidente (pois aprendi a fazer com que ela não me bloqueie, não me impeça de expressar, mesmo desajeitadamente, o que eu quero); sou introvertida e, como várias vezes ouvi ao longo da vida; “eu não me misturo” com facilidade; e não sou dada a arroubos de felicidade, sou meio melancólica por natureza (não por acaso grande admiradora da literatura romântica e gótica). O normal é que à primeira vista, me julguem “metida” ou antipática, meio intimidadora. Lembro de uma pessoa querida que certa vez me disse “eu achava que você era ‘metida’, porque você faz biquinho”, eu ri e falei “mas, é que eu sou ‘bicuda’ por natureza” e ela riu e devolveu um “é, hoje eu sei”. As pessoas que me encantam e com quem eu acabo me dando muito bem, são aquelas que não se intimidam com as minhas esquisitices, pessoas espontâneas, de boa vontade, livres de preconceitos, que não estão empenhadas em enquadrar os outros em padrões estanq...

Será Covid?

Há uma semana eu tento me livrar de uma gripe que teima em não me deixar. Estranho porque nunca tive dificuldades com elas. Geralmente com uma primeira dose de anti-gripal elas enfraquecem e vão desaparecendo aos poucos. Agora não... E a pergunta inevitável é: será covid? Não sei... E se for? Se for não há muito o que fazer. E eu me recuso a disputar lugar em hospital com gente que tem mais vontade de viver do que eu... Como assim, Helena, você não tem vontade de viver?! Na real... Eu já descartei todas as minha belas ilusões e não estou ligando muito, não...  Acreditei que o amor supera tudo. E chegou o tempo de descobrir que é mentira... Acreditei que todos os problemas pudessem ser resolvíveis a partir de uma boa conversa sincera. E chegou o tempo de descobrir que é mentira... E descobri tantas mentiras... Tantas! E descobri complexidades aparentes que sempre convergem no mais simples: o despertar da vida e o calar da desagregação, que chamamos de morte. Todo o grande espetáculo...

Como vai você?

Perguntinha corriqueira, feita por aqueles que nos querem bem e, por mera formalidade, por aqueles que não se importam – Como vai você? É sempre uma pergunta útil… Da última vez que uma amiga me questionou a respeito, me fez parar e pensar: como eu estou? Nos últimos anos aprendi a me proteger do sofrimento. Me coloco em um espaço mental em que não sinto, não me importo, não sofro e fico lá, protegida. Espaço acessado por uma porta chama Autocontrole e conquistado a duras penas, do qual muito me orgulho! Nunca fui de me abandonar. Pelo menos não por muito tempo. Nos momento mais difíceis me peguei no colo, contive meus ímpetos e corrigi meu próprio rumo. E nos momentos de normalidade sempre dirijo minha atenção para aquilo ou para aqueles(as) que são caminho para novas descobertas, novos aprendizados, oportunidade de nova elevação espiritual cada vez a um nível mais alto. Muitas vezes me enganei com belas aparências – e quem não? –, mas até os enganos foram e são possibilidades de apre...

Casamentos

Como diriam os fofoqueiros de plantão, "que babado, heim"!  Um homem se casa. Alguns anos depois, ele entra com pedido de divórcio... A lei vigente em seu país é bem simples. Desejando a separação, um dos cônjuges deve dar entrada no pedido de divórcio em um órgão distrital. Pedido protocolado, o casal tem seis meses para repensar seus conflitos e reconciliar-se, ou não. Após seis meses, o cônjuge que fez o pedido deve comunicar se mudou de ideia. Se ainda deseja divorciar-se, a separação será oficializada. Sem maiores complicações! A divisão de bens é feita em outra etapa.  Pois, bem… Aquele homem deu entrada no pedido de divórcio. Pouco tempo depois, ele mudou de ideia. Foi até o órgão distrital e retirou o pedido. O casal reconciliou-se. Final feliz, não? Bem… O casamento continuou e, espontaneamente, com o passar do tempo, os cônjuges passaram a viver em países diferentes, a eposa nos EUA e o marido na Finlândia. Porém, mantiveram uma relação de amizade, falavam-se com fr...

Alexi Laiho

(08 de abril de 1979 - dezembro de 2020) Meu primeiro contato com a arte desse finlandês foi em fins da década de 90. Cheguei a ouvir o Sinergy (1997-2004), quando a banda estava nos seus primeiros dias, por meio de fita K-7, gravada por algum amigo... Na época, quem me chamou a atenção primeiro foi a Kimberly Goss, a vocalista que passava longe do estereótipo da "roqueira gostosa". Uma garota com traços orientais, meio acima do peso, voz poderosa, cheia de atitude e nada apelativa, sexualmente falando. A Kim agia naturalmente e era parte da turma dos rapazes, como eu mesma me esforçava para ser. Não havia conotação sexual em primeiro lugar, e sim grandes amizades num momento da vida em que tudo é novidade e a existência parece ser uma aventura sem fim. A Kim acabou se tornando a primeira esposa do Alexi e, ao que parece, uma amiga para a vida toda, embora tenham se separado mais tarde.  Com o Children of Bodom (1993-2019) tomei contato pouco depois do Sinergy. COB foi fundad...

Famílias Disfuncionais

  Organizando minha biblioteca para enfrentar 2021 Gillian Flynn ganhou grande destaque no Brasil em 2014, ano do lançamento do filme Garota Exemplar , baseado em seu livro publicado dois anos antes e protagonizado por Rosamund Pike (Amy Dunne) e Ben Affleck (Nick Dunne). Acho que tomei contato com sua obra pouco antes disso, explorando o site da Intrínseca, que é uma das minha editoras favoritas de ficção. “Um suspense psicológico intrincadamente construído, Garota Exemplar envolve o leitor no claustrofóbico mundo de um casamento arruinado. Um livro maravilhoso e assustador sobre como a superfície da normalidade e o interior sombrio se entrelaçam a tal ponto que se torna impossível separá-los.” (Orelha)  Conhecendo as traições do marido, Amy planeja um modo de vingar-se e reverter a situação a seu favor. Ela desaparece, não sem antes planejar, meticulosamente, que o marido se torne suspeito de tê-la assassinado, fazendo-o arrepender-se, dominando sua vontade e convertendo-o e...

Nietzsche Sendo Nietzsche Hoje

Há não muito tempo, Leandro Karnal entrevistou Scarlett Marton, professora estudiosa da obra de Friedrich Nietzsche. Questiona se, vivendo nos dias de hoje, o filósofo alemão seria um usuário dos meios digitais de comunicação, incluindo redes sociais, Marton respondeu que sim, Nietzsche certamente estaria fazendo uso de tudo o que está disponível e seria muito atuante.  Concordo com a professora. Sem dúvida, Nietzsche seria um usuário pleno dos recursos digitais! Mas, a pergunta que tenho colocado para mim é: COMO?  Nietzsche, sendo Nietzsche, seria um homem de seu tempo, mas contra seu tempo, como tão bem escreveu Marton em um de seus estudos. Para ele, provavelmente seria tempo de reconhecer que aquela sua antiga previsão “claustros serão novamente necessários” se encontra concretizada hoje. Ou seja, é tempo de recolher-se, sair do mundo para colocar-se em um espaço-tempo que permita preservar a memória cultural enquanto se cria novos modos de perceber, pensar, comportar-se,...