A Internet chegou aqui em casa em algum mês do ano 2000. Na época era uma exigência profissional, pois eu começava a me aventurar no universo dos autônomos e a rede já despontava como uma possibilidade de atuar em um mercado não apenas local. Porém, ser autônomo em ambiente virtual é uma coisa solitária. Não tem a pausa para o cafezinho no meio do expediente e o bate-papo que sempre surge em escritórios. Para suprir tal lacuna foi natural me inserir em ambientes de bate-papo virtual.
Os fóruns entraram na minha vida anos antes de alguém ouvir falar em Orkut. Aliás, antes mesmo do MSN e na época do ICQ. Era um tempo em que os internautas usavam avatar e pseudônimo e as discussões, muitas vezes, eram longas e interessantíssimas. E eu gostava muito, pois geralmente me ajudavam a organizar meus próprios pensamentos sobre temas quaisquer! Hoje em dia, em Facebook, entrar em discussão e divergir é o caminho mais curto para ser deletado.
Naquela época, normal era que as pessoas discutissem sobre ideias. As disputas de ego vieram junto com o MSN, quando os estranhos passaram a se “encontrar”, a se “identificar”. Daí ganhou importância "vencer discussão" em detrimento do simples conversar.
Identidade tem forte vínculo com auto-afirmação e na Internet o surgimento de indivíduos esteve ligado ao delírio, à difamação, ao bullying. Pessoalmente, nunca entendi o emergir de identidades na Internet. Não faz muito sentido para mim que a vida privada se torne pública e compartilhada. Ainda acho que o melhor tempo foi o do anonimato e das longas discussões de ideias, com a privacidade compartilhada apenas com aqueles que nela tomavam parte.
Sim, tenho lá minhas inseguranças permanentemente em conflito com meu narcisismo. Mas, nunca vi sentido na autoexposição e nas disputas de ego. Na verdade, não compreendo porque eu deveria convencer alguém de algo, ou porque uma foto minha, tirada durante passeio de final de semana, tem importância para alguém. Então, fui e sou uma retardatária, uma dinossaura dos tempos das cavernas da Internet. Dinossaura saudosa, aliás, que poucas concessões faz frente ao escancaramento geral da vida privada, ao qual uma boa parte das pessoas estão se permitindo.
Mas, é verdade que a fase louca do MSN, que desembocou no Myspace e no Orkut, teve algum benefício com o estabelecimento do Facebook. Hoje em dia as pessoas se aventuram menos a difamar outras ou praticar bullying. Hoje há recursos legais que garantem direitos às vítimas e os ofensores estão mais tímidos, também porque sabem que podem ser lidos por empregadores, familiares, amigos, etc. Porém, nem todos dão atenção a esses detalhes.
A gritaria dos reacionários, por exemplo, atinge altos volumes. É um outro tipo de desatino virtual que tem um padrão bem claro. É um tipo de egocentrismo aparentado com o que surgiu na fase do emergir das identidades, pelo menos no que diz respeito à histeria e ao pertencer a um “bando”.
O reacionário fala para seu bando, para ser aplaudido por sua plateia, como o difamador dos velhos tempos. O bando é sempre seu espelho do Narciso. Ele pensa pouco ou nem pensa. Ele apenas se repete num processo de “raciocínio” circular, cuja estrutura odienta conta com uma bifurcação que o lança sempre no mesmo ponto. Um ponto imaginário, delirante e estapafúrdio. E a plateia aplaude! Para ele se a variável de um conceito é intrínseca ou não é irrelevante e talvez até indetectável. Contexto histórico não existe. Ele reinventa a história ou a ignora segundo suas conveniências. É um tipo óbvio e previsível de tão óbvio. Não admite a possibilidade de estar errado, de maneira alguma, afinal está sempre muito ocupado em esbravejar sua fúria e sarcasmo por palavrões proferidos a granel.
O reacionário tem me feito pensar que o profissional com mais o que fazer em tempos de sociedade da informação são os psicólogos. O tempo passa, a Internet já tem sua própria história, mas certos tipos básicos só mudam de endereço.
Foto: http://wordsuseless.blogspot.com.br/2011/08/espelho.html
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