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Batman, Lucius Fox e A Vigilância das Telecomunicações


Texto: Helena Novais
Em 15.07.2013

Dia 17 de julho de 2008 foi o dia da estreia nacional de Batman, o Cavaleiro das Trevas. Eu o assisti no dia seguinte, num sábado pela manhã. Foi uma das experiências mais impactantes que eu já tive com cinema.Talvez a mais impactante. Na época eu escrevia para o site Cine Players e a expectativa pelo desempenho do filme era alta. Não decepcionou. E foi recorde de bilheteria. Todos os colaboradores queriam publicar suas resenhas sobre o filme e elas foram aparecendo no site aos poucos. Eu, impaciente, aguardava a publicação do meu texto que foi um dos últimos a ser apresentado aos leitores, pois eu não havia avisado que o assistiria. Tudo bem! Modéstia à parte, o meu texto foi o melhor! Não, isso não é uma demonstração explícita de arrogância. Foi o melhor para mim, porque na época era o que expressava mais perfeitamente o meu deslumbramento com o filme. Conseguir se expressar de forma satisfatória em texto é muito difícil, mas na época fiquei satisfeita.

Semana passada revi a trilogia Batman by Chris Nolan. Confesso que não gosto muito de Rises (repetitivo, excessivamente barulhento, violência demais e soluções inteligentes de menos, etc.), mas Begins e, depois de cinco anos The Dark Knight, ainda me deslumbram. Tal efeito se justifica pela quantidade de questões existenciais diluídas nos dois filmes, apresentadas em tom perfeitamente realista, em roteiros costurado com trilha sonora e ritmos perfeitos. Os resultados me parecem orquestrações em que todos os símbolos se combinam em harmonias perfeitas! Estão ali a complexidade da alma humana e sua luta por estar bem num mundo cheio de contingências e fatalidades. A gente pode fazer tudo certo, com as melhores das boas intenções, e ver tudo desmoronar imprevisivelmente, violentamente, incontrolavelmente, irreversivelmente... E como é difícil livrar-se do medo, encontrar um rumo seguro, controlar o desespero e o desamparo, manter a própria identidade e ideais! Como é difícil equilibrar-se na estreita linha do certo que desemboca no errado e do errado que desemboca em possibilidades de tudo, de nada! Como é difícil conciliar amor e dor... Eu amo e eu odeio tudo ao mesmo tempo agora é um soco no estômago e uma dor extenuante!

"Conheço a raiva que guia você. Uma raiva que vai sufocando a dor até a memória de seu amado pai se tornar veneno em suas veias. Para um dia desejar que a pessoa que mais amou nunca tivesse existido e ser poupado do seu sofrimento (...) Sua raiva lhe dá grande poder. Mas se você deixa, ela destrói você. Como quase fez comigo"... Eu também conheço... Destrói, eu sei... Há aqueles que caem e levantam e aqueles que caem e nunca mais retornam. Manter-se com integridade é o desafio dos desafios... A "loucura" pode ser tão lógica quanto a razão do ser mais "normal".

Estou me devendo o prazer de escrever novamente sobre o Cavaleiro das Trevas agora considerando a carga de leituras e descobertas pessoais feitas nos últimos anos... Tanto a dizer! Quando escrevi meu texto apenas dava vazão ao que eu sentia (http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1380), até influenciada pelo caos que havia em São Paulo naqueles dias por conta das ações do PCC. A introdução do texto faz alusão a isso.

Eu havia me esquecido completamente de como Batman localiza o Coringa e acaba por derrotá-lo e prendê-lo... E ao rever arregalei os olhos espantada. Havia me esquecido disso! Foi com a ajuda de um sistema de escuta e monitoramento de celulares... Isso em 2008!

Entre aqueles que estudam cinema a sério é muito comum considerar que ele é um veículo de disseminação de ideologias. Comum dizer que os EUA fizeram do cinema uma forma de lançar sobre o mundo seu modo de viver e influenciar as culturas de todo o planeta... A primeira vista, se pode dizer que colocar uma questão como esta num blockbuster arrasador como foi The Dark Knight é uma forma de influenciar negativamente o mundo. Neste caso, acho que vou discordar... Chris Nolan resolveu a questão muito bem! Contra a vigilância, eu também prefiro acreditar na humanidade. Mesmo que de tempos em tempos apareça um terrorista real, me parece que a solução antes é a valorização da vida e das relações humanas do que o controle. 

Lucius Fox me representa!


A sequência final de The Dark Knight, pois esperança é indispensável:



Publicação original: http://claro-escuro.blogspot.com.br/2013/07/batman-ou-vida-imita-arte-e-vice-versa.html